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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Para Recordar...

MENINOS DE SAPATILHA

Piruetas contra o preconceito

Por Luciana Hidalgo


Talento, perseverança e glória

O amazonense Marcelo Mourão Gomes, 21 anos, é um dos bailarinos solistas do conceituado American Ballet Theater de Nova York. Filho de um advogado, Marcelo suou muito até chegar ao estrelato. Garoto de classe média, na infância chegou a sofrer discriminação na escola. Um professor fazia questão de frisar que não queria nenhum aluno 'dobrando a mão' por ali. Isso é passado. Hoje, consagrado, ele cultiva um desejo: criar no Brasil uma escola de balé para meninos, um passo a mais para vencer os preconceitos que rondam a profissão

Não é mais possível pensar em preconceito quando se fala de homem e balé. Isso é provinciano, principalmente num país como o Brasil, onde espetáculos populares de dança, como o Carnaval do Rio e o Festival do Boi de Parintins, no Amazonas, estão cheios de homens dançando. A mídia tem um papel importante para ajudar a acabar com isso.

Por ser o país do futebol, o preconceito no Brasil é mais visível, mas precisa ser superado. Sou parte dessa virada. Pensar que antigamente mulher não podia atuar no teatro, não podia ser atriz. É a mesma coisa com bailarino. Felizmente, vivo nos tempos de hoje, em que atuar não tem sexo. Conta apenas talento, dedicação e força de vontade.

Sempre me perguntam alguma coisa sobre preconceito. Só vivi uma situação quando tinha 12 anos e estudava na 6a série no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Rio, onde cresci. A discriminação não era dos colegas, mas do professor de Educação Física. Ele vivia repetindo que não queria 'saber de ninguém quebrando a mão'. Meus pais foram chamados pela orientadora educacional, que sugeriu me levar a um psicólogo. Eles, como sempre, não deram ouvidos e acreditaram no meu potencial.

Tudo começou porque a minha mestra Dalal Achar havia enviado uma carta à escola solicitando que eu fosse dispensado das aulas de Educação Física. Naquela época, eu ensaiava cerca de seis horas diárias o balé 'A Floresta Amazônica', em que havia um personagem especialmente criado para mim. Acabei não fazendo Educação Física na escola porque Dalal mandou outra carta para a escola, desta vez com a concordância da Secretaria de Educação. Logo depois, fui estudar nos Estados Unidos e o balé virou prioridade de vida. Eu tinha 13 anos.

Eu me interessei pela dança quando ia buscar minha irmã na aula de balé, junto com a nossa querida babá, Noêmia. Logo depois, ingressei nesse mundo fantástico. Aos 7 anos, terminei uma redação sobre o tema 'O que eu quero ser quando crescer', com a seguinte frase: 'Sei que sempre, em algum lugar do mundo, haverá uma sapatilha me esperando'. Até hoje, tenho certeza da verdade contida naquela afirmação. Meus pais contam que desde pequeno eu dançava pelo apartamento ao som de vídeos da Xuxa e da Pequena Sereia.

Não posso dizer que a minha infância foi igual a das demais crianças. Fiquei durante anos almoçando dentro do carro ou do ônibus, no intervalo entre o colégio e a academia de dança. Noêmia cuidava para que eu não chegasse atrasado. O apoio dos meus pais e de toda a minha família foi fundamental para que eu tomasse a decisão de seguir carreira.

Aos 11 anos, fui a Buenos Aires participar do meu primeiro Cuballet [curso de verão promovido por bailarinos cubanos]. A viagem só foi possível graças à ajuda financeira de uma tia querida, pois meus pais não tinham condições de assumir todas as despesas. Para financiar meus estudos, mesmo como bolsista, em um conservatório na Flórida (EUA), meus pais venderam um imóvel, em Manaus.

Nos Estados Unidos, aprendi o conceito de 'ser o melhor'. Durante os quatro anos que passei lá, fui o melhor não só na dança como, também, no curso regular da escola americana. Eles investiram em mim e me prepararam para um concurso na Suíça, onde ganhei um prêmio em dinheiro e uma bolsa de estudos para a Escola Nacional da Ópera de Paris. Mais uma vez, meus pais ajudaram a me manter na França, onde fiquei de agosto de 1996 a maio de 1997. Foi uma época difícil, mas muito promissora.

Na escola, os estrangeiros não eram muito bem-vindos. Mas, depois de algum tempo, fiz amizades. A experiência foi inesquecível. Fui bailarino solista na festa de encerramento do curso -algo inédito para um estrangeiro. Com apenas 16 anos, foi uma emoção muito grande dançar na sede da Ópera de Paris e ser elogiado pelos críticos. Todo o sacrifício começava a ser recompensado. Em seguida, fui contratado pelo American Ballet Theater. Devido às apresentações com o ABT e meus contratos como convidado especial em outras companhias, já conheço grande parte do mundo.

Moro em Nova York, em um apartamento pequeno, mas charmoso, que tem até um jardinzinho. Minha vida é muito corrida, a vida pessoal não está em primeiro plano. Apesar de me dedicar inteiramente à dança, tenho uma vida amorosa ativa e feliz. Minha namorada, Adrienne, é bailarina e também está no American Ballet Theater. Nós nos entendemos perfeitamente.

No futuro, pretendo criar uma escola de balé para meninos, além de me apresentar, com a minha própria companhia, em todo o mundo. Ver brasileiros no balé clássico não é coisa de momento.'

Fotos: Dario Zalis/agradecimentos: Cia. Étnica de Dança e Teatro;
Revista MarieClaire

2 comentários:

natalia disse...

Amei o post,
Tenho um filho, de 2 anos ainda, mas pretendo colocá-lo no ballet, sempre amei, e acho lindo homens dançando, mas meu marido discorda, diz que
não quer de jeito algum o filho dançando ballet,
Acho uma ignorancia tremenda, vou encaminhar esse
post pra ele.
Beijos e parabéns pelo blog.

Myrna disse...

Obrigada, Natalia. Espero sinceramente que este texto possa ajudá-la a informar melhor as pessoas sobre o ballet para os meninos, quer façam parte da família ou não. O preconceito geralmente vem da falta de conhecimento sobre o assunto.Torço para que seu filho ame esta Arte e receba o amor e o apoio incondicional de seus familiares.Boa Sorte e Parabéns pela sua iniciativa.

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